Friday, April 3, 2015

Sobre as sextas e a sociologia do trabalho (talvez, isto não é uma promessa)

Como se sabe, sexta é o dia mais importante da semana. Todos as religiões possuem um dia de reflexão e dedicação ao senhor em que são recordados as privações e sofrimentos do passado, a graça do presente e as esperanças do futuro. Para os Judeus esse dia é o sábado, para os Cristãos o domingo, mas para os Americanos (povo sábio e muito mais avançado que o nosso) o dia de Deus é sempre a sexta. É o momento em que agradecemos a todos os santos, não as dádivas que nos foram concedidas ao longo da vida, mas o simples facto de que, todas as semanas, a merda do trabalho termina. Tratava-se a bem dizer, de uma questão simbólica, porque daí a outros dois dias, o trabalho (esse grande filho de uma esquina) recomeça. Ainda assim, a sexta funciona como lembrança bem vinda que, mais tarde ou mais cedo, tudo acaba, até o trabalho. Mais cedo ou mais tarde, as semanas deixam de recomeçar.
E não me digam que gostam do trabalho que fazem, por que recuso-me a acreditar que tenhamos chegado a esse ponto. Terá a humanidade descido tão baixo? A devassa publica será tal que até existam pessoas que gostam de trabalhar? Não, impossível! De qualquer forma e seja como for, eu sou uma pessoa decente, de boas famílias e bons costumes, e não me incluo com certeza nesse grupo. "Ah e tal, mas eu até estou a trabalhar numa área relacionada com o meu curso e que eu sempre adorei." Pois, percebo-te. Eu, como hobby, também me divirto a fazer o que faço, mas paradoxalmente, é quando me começam a pagar que a sopa começa a azedar. Afinal de contas, quem faz gosto a troco de dinheiro são as putas, ou não é verdade? É como vos digo, isto chega a ser imoral e eu não alinho nessas coisas.
"Ora essa. então trabalha de graça!". Ora essa digo eu. Se queres trabalhar de graça, trabalhas tu, que eu não sou escravo de ninguém e preciso de comer. E aqui, meus senhores, reside o verdadeiro busilis da questão: por muitas voltas que queiramos dar à vida, seja qual for a perspectiva com que olhemos para o problema, acabamos sempre entalados com o trabalho. É uma coisa desagradável, mas a sociedade e as necessidades do dia a dia assim me obrigam. Tenho sempre, no entanto, a satisfação de saber que a dita sociedade não me venceu por completo e que o quer que eu faça, faço-o sempre sob protesto.

1 comment:

  1. Caríssimo, tenho desde já a informar que, de facto, sexta-feira é dia sagrado ... para os muçulmanos. E até digo que eles, de facto, tem toda a razão em afirmar que é um dia sagrado - basta ver que é o dia em que finalmente paramos de trabalhar. Já os Judeus também têm razão ao afirmar que é Sábado, já que é o primeiro dia do fim de semana em que usufruímos de uma pausa laboral em todo o seu esplendor. E os Cristãos também têm razão pois é o último dia, e deve ser apreciado e aproveitado ao máximo. Calma lá ... Se toda a gente têm razão, então porque raio é que os restantes dias também não são sagrados para alguém ? Será que ninguém ainda se lembrou de declarar nenhum dos restantes dias como sagrado ? Como é possível ? Ora a resposta é simples: há que trabalhar ... E muito honestamente, quem é que quer como dia sagrado, um dia de trabalho ? Sexta ainda se percebe bem, agora segunda, terça, quarta e quinta ... Puxa, Quinta só é importante porque vem antes de Sexta... E quando é Segunda, há muita gente que sai mesmo pela janela, para não apanhar o trabalho à porta ...

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