Saturday, July 4, 2015

Chega de Lusitanos

Nós não descendemos dos Lusitanos. Ponto. Oh, pa, é só isso que tenho para dizer. Não descendemos, e não há nada a fazer.

Pronto, pronto, eu explico.

Comecemos pelo começo. Ao contrário do que vos poderão ter dito, Guimarães não foi o berço da nação, não temos apenas cerca de 900 anos de história e Afonso Henriques não foi nem o primeiro português nem fundou Portugal. Não, quem fundou Portugal foram os celtas, ou talvez os romanos! Seja como for,  no inicio, eramos apenas uma pequena cidade portuária, mas crescemos, crescemos, até nos tornarmos neste "belo" país que aqui temos. Afonso Henriques foi apenas um tipo que apareceu lá pelo meio desta história, já a procissão ia pelo adro. Ninguém pode negar que ele teve um papel fulcral, e que nos ajudou a fazer a transição de província galega para país independente, mas não só não foi o primeiro, como nem era propriamente português (era franco-galego). E mesmo que fosse, não era mais importante que os outros milhões de portugueses que já viveram e morreram por esta nação e não merece uma estátua (Na realidade, em Portugal ninguém merecia uma estátua excepto o Pantera Negra. E não me refiro ao Eusébio mas sim à estátua que está à frente do estádio do Beça. Não sei se já viram a estátua a que me refiro. É um monumento que transborda de pujança e que é capaz de tornar os rapazes em homens ou as raparigas em lésbicas só de olharem para ela).

Mas que tem isto ha ver com os Lusitanos? Ora bem, eu tinha prometido que ia começar pelo começo e a verdade é que Portugal começou no norte (há um número de séculos superior a 9) e só depois é que se foi expandido para sul. Vocês fazem idea de onde era a Lusitânia? Pois bem, eu explico! A Lusitania ficava numa área situada na moderna Espanha e (o pouco que sobrava) no sul de Portugal. Perceberam? Nós nascemos no norte, mas aqueles gajos só viveram no sul. E o sul são anexos, que nem sempre fizeram parte de Portugal e mesmo hoje continuam a não fazer parte do Portugal a serio, que como se sabe não se extende mais a sul que margem não-norte do rio Douro.

Mas então, por que é que nos ensinam exactamente o contrário na escola? Para dizer a verdade, não tenho a certeza que de facto o ensinem. Já não me lembro. Mas alguém mo deve ter dito e durante muito tempo acreditei que fosse verdade. A confusão começa durante o renascimento, quando alguns "iluminados" decidiram, pura e simplesmente, que os portugueses descendiam dos lusitanos. Um dos gajos que esteve envolvido nessa tramoia foi o nosso saudoso Luis de Camones e a sua obra "Os Lusíadas". Não pensem que tenho alguma coisa contra este homem e que é só por isso que o menciono aqui. De facto, só tenho pena que a sua maior obra seja pouco mais que um plágio de varias obras clássicas e que o próprio título esteja errado e seja um claro exemplo daquilo a hoje chamaríamos de "apropriação cultural". Isso e o facto de ser objectiva e significativamente inferior aos grandes poetas portugueses como José Régio e Fernando Pessoa Cª lda. Não se trata, ainda assim, de um artista sem mérito, visto ter escrito os mais belos poemas sobre o amor da lingua portuguesa. Ah não, espera, isso foi a Florbela Espanca! Peço desculpa, o erro foi meu!

Bem, já chega de bazófia, voltemos mas é ao assunto que nos trouxe aqui. A verdadeira culpa disto tudo, no entanto, pertence, não a poetas vesgos e com eterna tesão, mas sim ao Estado Novo, que tentou fabricar uma história portuguesa épica, usando os Lusitanos como ponto de partida. Claro que tal empreitada nem sequer faz muito sentido porque, como expliquei no inicio, somos uma cultura milenar e não precisamos de nada mais romântico que a própria realidade. Finda a ditadura, o mito dos Lusitanos, tal como o Benfica, manteve-se como um resquício da propaganda da Velha Senhora e uma ferramenta de opressão e ocultação da verdade. E, tal como o Benfica, já estava na altura de desaparecerem.

Ah, pois, agora é que me lixei, não é verdade? Dizer mal do Afonso Henriques e do Camões pode ser, mas do Benfica, 'tá quieto! Coitadinhos dos benfiquistas que ficam logo todos ofendidinhos! Sabem o que vos digo? Ide todos pó caralho!

1 comment:

  1. Um mito construído no século XVI pelo humanista Andre de Resende nas suas "Antiguidades da Lusitânia" - tão poderoso como os mitos da corda ao pescoço de Egas Moniz, das Cortes de Lamego ou da "Escola" de Sagres".

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